um sapatão na kaminhada: enkruzas da lesbianidade y transgeneridade

mesmo pra um amante das letras igual eu a missão não é nada fácil: desenrolar umas linha sobre afetividade, intelecto y subjetividade trans. falar do lado íntimo é mais komplikado. mas vou rekorrer ao klássiko da literatura trans ke é a eskrita em primeira pessoa. aklamada velha eskola, Herzer y João Nery não me deixam mentir. nossa memória é base y fonte pra potente eskrevivência y eu diria ke também podem ser base. para uma novas teorias. depois kero fazer a menção a algumas ideia ke acende a chama da minha dissidência de gênero na vivência lésbika.

então vou apresentar meu lugar de fala sou Formigão pele parda nascido y kriado no extremo sul da zona sul de São Paulo no fundão do Jardim Ângela. solteirão uma vida inteira de preterimento. 31 ano kontrariando as estatístika. sou aprendiz de eskritor me konsidero um sapatão oníriko utópiko um sapatão maskulino uso pronomes ele/dele. a partir desse kor-po dessa klasse desse gênero dessa raça ke vivencio a realidade y vou buskando andar gingando pra desviar das maldade do mundão.

kuando eu me vi komo um sapatão maskulino não sabia ke podia ser assim. na minha bolha lésbika dizer ke uma lésbika é maskulina era uma heresia. então fui alimentando dentro de mim uma ficção: a invenção da minha própria maskulinidade komo algo sekreto, mas sou tão trans-parente ke isso saiu pra komunidade em poko tempo em forma de poema y de repende trans-bordou em trans-formação de nome de visão de mundo y de buska por outra epistemologia.

kuando eu me vi komo um sapatão maskulino não sabia ke podia ser assim

piro na ideia de teoria sobre lésbikas porke na solidão do meu kuarto kem ampara meu saber meu pensar são as teórikas/teórikes. fiz uma lista de textos ke podiam abordar o tema das butchs, kaminhoneiras, dyke, tortillhera, torta, çakoimbeguiras, stud, machorras, machonas sargento, fancha, sapatão original, saboeiras, stone butch, chonga1 y komei a ler y ver ke outras pessoas também estavam preokupadas de falar das lésbikas fora do padrão da feminilidade y até de pessoas ke pensavam sapatão komo performatividade de gênero. nessas de me deklarar um mano muita gente se afastou de mim, outras pessoas diziam ke essas ideia de não tinha nada haver ke ou você é trans ou você é sapa mas também konheci uma galera nova ke tava se identifikando dentro dessa enkruza da lesbianidade y transgeneridade.

pessoalmente kurto pensar minha vivência lésbika dentro da transmaskulinidade. mas komo entendo também ke algumas identidade sapatão não é homem y nem mulher2 é uma vivência ke tá dentro do guarda-chuva trans da não binariedade. só ke essa ideia de lésbika komo uma kategoria polítika em si mesma vem de miliantes y o povo achando ke noiz inventa a roda. é da Wittig a ideia de ke “as lésbicas não são mulheres”, já no fim dos anos 70 ela dizia isso,

lógiko ke kom outras raízes y perspectivas polítika, só hoje essa frase nos ajuda a pensar ser lésbika fora da kaixa da mulheridade.

maskulinidadede feminina é um konceito do Jack Halberstam onde ele pensa as expressões de gênero de pessoas designadas komo mulher ao nascer ke rompem kom a feminilidade y konstróem diferentes tipos de maskulinidades de akordo kom suas diferentes especificidades: mulheres maskulinas, butch y homens trans. ele mostra o deslokamento da maskulinidade dos homens pra outros lugares y ajuda no pensamento de dessencialização do gênero.

pessoas da antiga na literatura komo John Radcliffe Hall akreditava y defendia em 1928 a ideia de lésbika maskulina. Radcliffe Hall era uma mina eskritora ke no seu církulo social mais próximo gostava de ser chamado de John. ele eskreveu o célebre “Poço de solidão”, ícone da literatura tida komo lésbika. outro kara ke é monstro é o Leslie Feinberg ativista y da literatura eskreveu o célebre “Stone Butch Blues” (1993). ele não ligava pra pronomes mas gostava de ser tratado no maskulino pela komunidade trans. se entendia komo lésbika y trans vivia as duas identidade ao mesmo tempo. sapatões de kebrada komo Luana Barbosa dos Reis Santos, vulgo Luan3 também são um modelo de negritude, dissidência de gênero y lesbianidade pra mim.

citar essa galera não signifika ke pensem igual eu siginifika ke essas figura ajuda a fortalecer minha identidade. é loko a história por isso pra gente poder olhar o passado y ver ke já tem kaminhos abertos pros nossos sonho passar mas é preciso kavukar porke nem sempre esse konhecimento vai chegar de um jeito acessível, ainda é muita luta pra ter essa visibilidade. eu gosto de falar das minhas primeira referência sempre pras pessoas entender ke noiz não tira as koisas do nada tem muitas inspirações pra gente ir kontra o cistema.

é loko a história por isso pra gente poder olhar o passado y ver ke já tem kaminhos abertos pros nossos sonho passar mas é preciso kavukar porke nem sempre esse konhecimento vai chegar de um jeito acessível

essse kor-po meu eu não kabe em uma identidade só é múltiplo. é indissociável da lesbianidade polítika porke a konsciência da paixão do prazer da alegria da intelectualidade lésbika é imensa profunda oceânika abissal. y o interesse pela maskulinidade komo estétika y linguagem komo instrumento de autodefesa nas ruas da periferia é fundamental pra a konvivência na komunidade y também para a sobrevivência em espaços kom homens cis. então esse kor-po meu eu é um korpo de fronteira é um korpo de enkruzilhada na experiência de um sapatão komo um mano. a hiper virilidade komo herança cis ht kolonial tô fora não é minha kara mas akredito na kapacidade marginal de hakear o visual y o dialeto komo instrumentos pra o dia a dia.

a luta da komunidade trans konseguiu muitos direto no estado brasieliro mas ainda é uma sociedade extremamente violenta kontra trans y repleta de lesbo ódio. mesmo sendo institucional o rekonhecimento de nossa existência, o senso komum ainda nos trata komo loukura komo patologia. pode me negar ao pronome y ao nome social no trampo, na kebrada, na família, contudo minha força tá viva na

minha poesia. eu sou o ke eu kiser y eu me nomeio komo um mano. a poesia é minha ferramenta de afetividade, kom ela falo sobre os sentimento de modo vasto raiva dor tristeza amizade desejo, é por meio dela ke me konecto kom as lésbikas y amplio minhas redes de sociabilidade. poesia é meu dom, é meu trabalho, é um ato polítiko de inskrever minha existência no mundo. na poesia eu posso ser o ke dizem ke não existe na poesia posso ser eu um sapatão utópiko oníriko posso roubar as palavras y bonés dos homens y inventar minha maskulinidade.

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1 palavras de diversas kulturas pra expressam a lesbika fora do padrão da feminilidade.

2 nem todas as lésbikas fora da feminilidade se identificam komo pessoas trans. existem lesbikas kaminhoneiras ke entendem sua vivência komo mulher lésbika. a identidade lésbika é diversa inklusive a identidade de lésbikas kaminhoneiras ou bofes.

3 Natália Corazza Padovani, peskisadora sobre kárcere, afirma ter konhecido Luana Barbosa dos Reis Santos dentro da kadeia komo Luan Vicctor. Luana Barbosa dos Reis Santos sapatão preto ke as 34 anos de idade sofreu espankamento por parte da polícia militar do estado de São Paulo, vindo a óbito por kausa das agressões em 2016.

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referências

FEINBERG, Leslie. Stone Butch Blues. Revisão e tradução: Mascavo Traduções. Sem data.
HALBERSTAM, Jack. Masculinidad femenina. Barcelona – Madrid: Egales Editorial. 2008.
HERZER. A queda para o alto. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1983.
NERY, João. Viagem solitária memórias de um transexual trinta anos depois. São Paulo: Leya, 2011.
PADOVANI, Natália Corazza. “Luana Barbosa dos Reis Presente”: entrelaçamento entre dispositivos de gênero e feminismos ocidentais humanitários diante da violência do estado. In: BR 111 a rota das prisões brasileiras. (Org.) MALLART, Fábio GODOI, Rafael. Editora Veneta, São Paulo, 2017.
RADCLIFF HALL, Marguerite. O poço de solidão. São Paulo: Abril Cultural, 1974.
WITTIG, Monique. El pensamiento heterosexual y otros ensayos. Madrid, Egales, 2006.

formigão (antes formiga) poeta y fanzineiro da zs sp. autor dos zines eu-lésbika, lesbo ódio y dyke edge. editor de fanzines na edições formigueiro. autor do livro afro latina (padê editorial).

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