Por que não acolhemos as mães “não-hetero” com filhes de relações anteriores com homens

Há uma nuvem cor de chumbo acima da cabeça de mães não-heterossexuais, solo ou não, que desejam se relacionar com mulheres, e esse fenômeno nada natural se dá pelo não acolhimento, quando não a rejeição, de sua condição de mãe biológica de filhes de relacionamentos anteriores com homens cis.

É como se a mulher, mãe de rebentos concebidos de maneira convencional, seja ela bi/pansexual ou que passa a se entender como lésbica a partir de algum momento da vida, estivesse sempre carregando o progenitor dessas crianças em sua sombra. O fato de ter havido um homem em seu passado é razão para ter seus sentimentos e desejos invalidados.

A existência de filhes é a prova material que desqualifica a sexualidade desta mulher, que como um letreiro em luz neon anuncia que:

1. Ela não é digna de ter sua identidade sexual respeitada.

Mães biológicas, quando solteiras, são marcadas pela etiqueta normativa e biologizante que indica sua submissão ao papel social destinado às mulheres (combo heterossexualidade + matrimônio + maternidade), mesmo que na prática a teoria seja outra, já que existem inúmeras possibilidades que resultam numa gestação, que pode ser o desejo genuíno de engravidar ou um episódio de violência sexual, além da já sabida heterossexualidade compulsória.

2. Ela não é digna de confiança.

Existe uma lenda urbana que apavora mulheres que se relacionam com outras mulheres e ela conta que a qualquer momento poderá haver a substituição da parceira atual pelo pai da criança ou qualquer outro homem que possa assumir a função paterna. A regra é clara! Seja bi, ex-bi ou ex-hétero a única certeza é de que ela vai te trocar por um cara! Imbuídas desta fundante certeza culturalmente elaborada, mulheres podem sim ser agentes de violência cotidiana contra outras mulheres em seus relacionamentos afetivo-sexuais.

3. Ela não é digna de ser mãe.

Mulheres mães com filhes de relacionamentos anteriores que escolhem maternar com outras mulheres, não são integralmente aceitas em seus círculos sociais. Aqui o preconceito e a homofobia geralmente surgem fantasiados de preocupação com a criança e estão implícitos em ideias pré-concebidas que vão desde a afirmação de que a criança encontrará dificuldades em lidar com um arranjo familiar não-convencional, ou ainda que haverá prejuízos em seu desenvolvimento psicocognitivo em virtude da ausência permanente de uma figura masculina hétero falocentrada. É neste ponto em que se apoia a culpabilização materna em qualquer situação em que o comportamento ou desempenho desta criança não corresponda às expectativas alheias.

Deu pra sentir a tensão e o cheirinho de chuva, né?!
Mas nós só vamos dissipar essa nuvem falando abertamente sobre o assunto!

Que tal? Deixe aqui nos comentários a sua história, seu pensamento, o que você tem a dizer a respeito. Lá na comunidade, também abrimos um tópico a respeito no grupo “Maternar possível (é possível)”? Pra acessar a comunidade, CLIQUE AQUI.

Um xêro!

Historiadora, perfumista, empresária holística em @namaspreta e psicanalista em formação.

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