“Ando de mãos dadas com ela em todo lugar, menos no meu bairro”

“Mãos dadas.

Um ato que demonstra carinho, que fala antes da boca dizer.
Um ato político. Mas, sobretudo, afetivo.

Para um casal do mesmo gênero esse simples ato de afeto afeta os costumes e padrões pré-estabelecidos pela falida sociedade heteronormativa.

“Não vejo necessidade disso”! Dizem.
“É muita exposição”! Comentam.

E de “pouco em pouco”, a segurança do que somos vai sendo minada, abrindo brechas para concessões aparentemente inofensivas e inteiramente danosas.

Na maioria das vezes, o campo minado que precisa ser vencido em primeiro lugar é o ambiente em que desejamos que fosse exatamente o contrário. Nossa casa. Nossos pais e mães (ou núcleos familiares, em sua maioria) com conceitos de “proteção” e pudores que nos cercam de discursos tóxicos e que nos distanciam do que somos.

A saída?

Infelizmente, manas, ainda não há fórmula mágica. Mas, creio que se mostrar, dizer que existimos é um dos principais pressupostos para construir uma nova forma de pensar, uma nova forma de viver e ver o mundo. Todavia, alcançar essa consciência e se movimentar, ainda que devagar, com calma, são os primeiros passos para essa mudança.

Tudo isso, quando e como fizer sentido para você… quando for possível ser. No seu tempo. Mas, não deixe de pensar sobre isso, tá certo?

E, enquanto você se fortalece neste sentido, é sempre bom termos em mente que a coragem não é sobre a ausência do medo. Coragem é como a gente reage a ele, como a gente vive a partir do mesmo, através do medo, mesmo com medo. Porque para mulheres que se relacionam com mulheres viverem sem medo, o mundo precisaria ser outro.

O mundo precisaria ser como eu desejo, que é poder andar na rua de mãos dadas com a mulher que eu amo e com quem compartilho a vida sem ser abordada, violentada, questionada, “observada”, apontada. Para uma mulher como a gente viver sem medo precisaríamos viver num mundo em que nossas existências sejam respeitadas, que as nossas questões sejam vistas e ouvidas, que as políticas públicas cheguem até a gente.

Pra terminar, tenho um convite ao diálogo: eu ando de mãos dadas com  minha Amora, que é como eu chamo minha namorada, em todos os lugares do mundo, exceto no bairro onde moro. Sim, estou escrevendo aqui, eu e minha coragem atravessando meus medos. Estou eu também nos meus processos. E você? Como é essa questão aí onde você vive?”

 

Ariana, unida, filha das águas, Princesa de Abeokuta

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