Eu li e reli muita coisa a procura de dados, porcentagens e pesquisas que pudessem ilustrar o tamanho da situação que envolve tantos jovens homo/bissexuais. Para mostrar em números, descobri:
1 – Aqui no Brasil não existe, não achei ainda uma pesquisa com bases sólidas para que a gente possa ter uma ideia de quantos jovens morrem anualmente. Somente descobri que somente 16 casos foram registrados*¹ entre 1980 e 1993, mas tenho certeza que esse número não condiz com o verdadeiro volume de suicídios lgbt que marcam a história não contada de muitos jovens. Destes 16 casos, 9 eram gays e 7 eram lésbicas, as cidades do Rio de Janeiro e Salvador são as que mais aparecem nessa lista. Não sei se é verídico, mas segundo o Grupo E-Jovem, afirma que mais de 1000 (sim, mais de mil…) suicídios acontecem anualmente, gerando um número alarmante de quase três mortes por dia. Já Luiz Mott (2004) revela que o numero gira em torno de 160 suicídios por ano, portanto, cerca de 1 vida a cada três dias é finalizada. Talvez essa diferença aconteça pois as pesquisas não foram feitas em todo o território brasileiro. Diante de tanta discrepância não consegui finalizar em números reais as fatalidades.
2 – No Brasil o suicídio é a 6ª causa entre os óbitos de jovens entre 15 e 24 anos, enquanto nos Estados Unidos, esse é o 3º motivos entre jovens na mesma faixa etária*².
3 – Em uma pesquisa feita pela Unesco, a maioria das vitimas são do sexo masculino, em uma proporção de 6 para 1. A explicação achada para “justificar” essa porcentagem é que os meninos tem muito mais preconceito do que meninas. Também, meninos são muito mais propensos a agressão de colegas homossexuais por acharem que a atitude é uma demonstração de masculinidade e que valoriza a separação de meninos “diferentes”.
Afora os números que não encontrei, acabei achando dentro de mim algo que eu nunca havia percebido: indiferença, ignorância de determinadas realidades. Choquei-me ao ler histórias, bilhetes deixados por jovens que tinham tanto ainda a viver. Comecei a ver que a realidade é muito mais dura, que se estamos hoje onde estamos e somos quem somos, é por mérito de todas as situações que passamos. Mas… e quem não consegue passar por tudo isso? E quem não encontra dentro da própria casa e nas pessoas de seu sangue a aceitação e equilíbrio que precisa para enfrentar a discriminação que sofre na rua?
É difícil falar sobre um assunto tão delicado e assombroso como esse. O que posso afirmar é que, em inúmeras historias e relatos que li, o bullying caminha lado a lado com o suicídio entre a população lgbt. Acredito que o suicídio seja o ponto final de um caminho de não aceitação. Na maioria dos relatos que vi, o mais forte motivo é a discriminação sofrida pelos familiares e alguns tiveram como causa, problemas com parceiros.
Quem já pensou que a discriminação, a marginalização, o bullying… enfim, tantos atos impensados podem gerar algo tão grave: isolamento, depressão, vergonha de ser quem é, medo de envergonhar a família e amigos, medo de amar… Como, em uma sociedade que se diz tão moderna podemos ainda ter medo de amar? Então, depois de lutar tanto consigo mesmo, para se aceitar e para ter forças de sair do armário, alguns ainda têm que encontrar forças para lutar contra a não aceitação familiar e da rua. Quando a pessoa pensa que se assumindo e que se mostrando terá a liberdade reconquistada vem a dura realidade. Quando damos nosso grito de liberdade, somos vítimas novamente da armadilha do isolamento. Temos nossa tão sonhada liberdade somente em lugares restritos e com pessoas restritas. Acabamos de qualquer forma isolados.
É triste ver que as histórias se repetem, parecem cíclicas: descoberta da homo/bissexualidade, desamparo familiar, bullying, depressão, suicídio. O que mais me deixou pensativa é em como a família que, a meu ver deveria ser o pilar de sustentação desses jovens, fecha os olhos aos pedidos de ajuda que morrem na garganta, mas que sutilmente se fazem perceber no comportamento diário. Claro que para a família, entender o que está acontecendo não é fácil e nem trivial, mas para o jovem que se descobre, se além da pressão de fora de casa, ele ainda tiver mais pressão dentro de casa, onde ele poderá se conhecer e ter ajuda? Se não for no seio da família encontrado apoio, onde mais esse jovem poderá se nortear? Se descobrir, se encontrar dentro de si mesmo e se entender já é difícil, imagine sem o amor da família?
Até quando precisaremos nos comportar como se ofendêssemos as pessoas ao nosso redor? Até quando será preciso termos vergonha do amor que sentimos? Até quando ficaremos presos do outro lado da linha da “heteronormalidade”? Diante de uma humanidade cada vez mais desumana vemos vidas se perdendo, ideais sendo jogados ao vento, sorrisos vazios e lagrimas de sangue marcando um caminho que deveria ser colorido, leve e pacifico. Não queremos o impossível e nem o incabível. Não queremos ser igual a todos, e nem que todos sejam iguais a nós. Queremos SER quem somos, AMAR sem medo e MOSTRAR que somos imperfeitos como qualquer outro ser humano vivente nesse vasto planeta.
Não convivi em momento algum da minha vida com uma historia de suicídio, mas ao estudar o assunto percebi que não podemos deixar o assunto na ignorância. Precisamos dar voz a todos que se calaram durante a mais dura batalha interior que travaram dentro de seus corações. Estamos agora em um momento de transformações e de conquistas então porque não fazermos um pouco, qualquer pouco somado a “outros poucos” resulta em metas alcançadas.
*¹ http://conexaogdamare.blogspot.com.br/2011/08/suicidios-da-populacao-lgbt-no-brasil.html
*² http://www.fazendogenero.ufsc.br/8/sts/ST50/Teixeira_Filho-Marreto_50.pdf
Deixe um comentário