Cidinha da Silva tem uma carreira longa e extremamente prolífica, tangenciando praticamente todos os tipos de literatura: poesias, crônicas, contos, teatro. Por seu “Um Exu em Nova York”, da Editora Pallas, a autora ganhou o Prêmio Literário Biblioteca Nacional de 2019, na categoria conto. E é este livro que demonstra a elasticidade de Cidinha da Silva – com pouco mais de 70 páginas, as histórias nele trazidas transitam facilmente por diversos mundos, gêneros, realidades.
Que não se confunda o seu tamanho com uma possível leveza em suas páginas. Esta leveza de fato existe, mas não de potencial, importância e interpretações – e sim da volatilidade dos seus personagens e temas, que passeiam por épocas e lugares diferentes (do Brasil à Nova York, como o próprio título indica).
“Um Exu em Nova York” de fato proporciona uma leitura voraz, mesmo que curta em tempo (caso não visite e revisite os contos que traz). É um atestado ao poder da autora que seu conto “Marina”, com uma página de duração, ilustre tão bem e tão sutilmente sentimentos comuns a várias mulheres – mesmo que cada uma leia com uma interpretação. Também não se pode deixar de notar a lembrança às “amoras de Polesso”, uma pequena nota a outra habilidosa autora.
Logo em seguida à “Marina” temos “Farrina”, outro nome de mulher (e são tantas neste livro!). Um diálogo permeia todo o conto, que é tão evocativo que nos leva a uma Nova York muito visível – mesmo a quem nunca a visitou. Visibilidade também é um poder de Cidinha de Paula nesta obra.
O professor de Filosofia Wanderson Flor do Nascimento cunha o Prefácio de “Um Exu em Nova York” com o título “Exuzinhando a Memória”. E não é apenas a memória que é exuzinhada neste livro – são vários caminhos abertos, várias mulheres, vários temas, passado-presente-futuro.
E, até com sentido elucidativo (e comunicativo, tal qual Exu), ele finaliza com um Glossário, apresentando majoritariamente divindades (orixás) e termos iorubá.
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