João Nery é muito mais do que dizem os comentários , é uma amor de pessoa e com uma história de vida digna das melhores minisséries. Com ele inauguramos aqui no True Love  a coluna 5 minutos guardados, um cantinho reservado para entrevistas.

“João Nery é uma referência nacional não só por ter sido o primeiro transhomem [operado] do Brasil, mas também por sua generosidade e coragem em compartilhar sua experiência singular.”

(Simone Ávila, pesquisadora).

“Este é um livro sobre integridade, um valor muito caro à sociedade de João. Devolve ao leitor o paradoxo da relação entre integridade e mutilação: chegar à mutilação em nome da integridade.”
(Hélio Silva, antropólogo).

“Acertar a pessoa’ é como acertar uma roupa para que ela caiba melhor. Só que, nesse caso, a roupa é o próprio corpo. A impressão que fica do livro é que todos nós vamos nos acertando aos poucos, não importa se trans, homo ou hétero. Acho que por isso a história é tão interessante.”
(Julia Lugon, designer).

“Em 1977, João Nery foi pioneiro ao se tornar a primeira mulher do Brasil a mudar de sexo. Mais de 30 anos depois, ele conta como é a vida de quem é estrangeiro do próprio corpo.” Assim começa Millos Kaiser sua reportagem “Corpo Estranho”, que é reproduzida no livro. Em plena ditadura militar, o ex-psicólogo usou o mesmo recurso dos militantes clandestinos: a partir de uma certidão de nascimento tirada no interior, com nome masculino, tornou-se um homem “legal”, mas sem currículo. Foi ser motorista de táxi.

“Ao contar sua infância, sua juventude, ao descrever suas relações com pais, irmãs, amigos da pracinha, passageiros de seu táxi, ao falar de seus sentimentos e pensamentos, cria um universo capaz de dobrar o mais resistente dos leitores. Em seu texto este homem está inteiro, acima das limitações impostas pela cirurgia, das cicatrizes deixadas pela experiência pioneira e, por isso mesmo, mais agudamente solitária. O texto deste João é fiador de seu projeto de vida.”

O entusiasmo do antropólogo Helio Silva, um dos pioneiros da pesquisa sobre transidentidades no Brasil – ainda que esse conceito seja recente – revela a importância do relato do autor, ele próprio um profissional da saúde mental, ajudando a derrubar o velho preconceito que via o transexualismo como transtorno de personalidade, uma doença mental. Simone Ávila, pesquisadora do Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividades (NIGS/UFSC), introduz o conceito de transhomem, para falar de João Nery.

Testemunho, drama, informação de primeira mão: o livro de João Nery interessa aos estudiosos, aos curiosos, ou simplesmente ao leitor interessado num bom texto sobre uma história verdadeira.

Sobre João

João W. Nery publicou “Erro de Pessoa: João ou Joana?” em 1984, pela Record, graças ao empenho pessoal de Ruth e Antonio Houaiss, que fez o prefácio, terminando assim: “Leiam e humanizem-se.”

O “Viagem Solitária, Memórias de um Transexual Trinta Anos Depois” é uma releitura do livro anterior e a sua continuação, com a grande revelação: João torna-se pai, ainda que não biológico, de um filho que hoje está com 24 anos, formando-se em Engenharia e morando com a namorada. É o grande acerto de João, não importa o gênero.

O autor nasceu em 1950 no Rio de Janeiro, numa família com princípios rígidos mas muito amorosa. Nos agradecimentos do livro, lá está a referência aos pais, que não o impediram de ser o que é hoje.

Aniversário Fevereiro 1952

 

1995 com Darcy Ribeiro em sua casa em Maricá

Ao perder o diploma de psicólogo, por causa da identidade irregular, trabalhou numa usina de concreto, foi artesão, terapeuta corporal, técnico em computador, professor universitário substituto. Sempre escreveu poesias, algumas delas transcritas neste livro.

A recente conquista do espaço de cidadania pelas transidentidades permite ao leitor em geral conhecer mais de perto o drama vivido pelos indivíduos que não se enquadram nas antigas e rígidas categorias que a sociedade criou.

Cinco Minutos Guardados com João Nery

Conversamos com João Nery em uma entrevista rápida que você lê a seguir:

True Love :  Em 1985, em uma entrevista onde seu livro “Erro de pessoa” era apresentado, você se apresenta de costas, e sem identificação. Hoje vemos você sendo entrevistado de frente e tem sua foto exposta em revistas. Você acredita que o seu objetivo na época, que era o de abrir os olhos de uma sociedade, tenha sido atendido? Acha que há uma maior aceitação ou que o politicamente correto ainda rege o exterior das pessoas, mas não o interior?

João Nery:  Não acho que na época meu livro tenha mudado, substancialmente, nada. Teve um impacto inicial, mas ainda no regime da ditadura (muita censura nas mídias) e eu sem poder me mostrar, o que impediu uma divulgação maior. Surgia também a AIDS, o que fez com que alguns movimentos gays se retraíssem, embora, depois, fortalecidos com verbas do Estado, promovendo uma ação conjunta para combate ao preconceito. Claro que há uma maior aceitação do que há 30 anos . O movimento LGBT se fortaleceu, proliferou, se viabilizou e visibilizou-se mais. Porém, ainda vivemos numa cultura patriarcal, misógina, machista e heteronormativa, que penaliza os que saem dos padrões. Com este “Viagem solitária”, agora, eu não esperava a repercussão que está acontecendo. Virei “psicólogo virtual” em rede social (rsrs).  A garotada dos vários gêneros e orientações sexuais, me procura, pedindo ajuda.

True Love : O Que foi pra você se tornar pai aos 37? A paternidade sempre foi um desejo?

João Nery:  Sim, sempre quis ser pai, embora sentisse que seria um grande desafio. Ficar em casa com ele, nos fins de semana, era um grande programa. Se o tivesse tido aos vinte, acho que teria preferido ir para a balada. Ele foi um sol na minha vida e aprendi a amar mais e melhor os outros. A quarta parte do meu livro dedico à forma como o eduquei, tentando fazer dele um novo modelo de homem, que se permitisse expressar também os valores ditos femininos na nossa sociedade.

True Love : Deixe uma mensagem para as nossas leitoras.

João Nery:  Leiam “Viagem solitária” e humanizem-se mais, como sugere o prefaciador Antônio Houaiss. É uma autobiografia, e transcende a questão puramente da sexualidade. O livro tem sido usado também como um instrumento de abertura para tod@s @s diferentes se fazerem entender. Muitos deram para seus psicólogos, amigos e parentes lerem. Um gay me procurou para dizer que, quando sua mãe acabou a leitura ficou extremamente aliviada, porque ele não era trans, simplesmente um homem que gostava de outro homem!

Quer saber mais sobre a História de João Nery? Então leia Viagem Solitária. Nós encontramos aqui:


– Livraria Cultura 44,90

– FNAC 35,90

– Livraria da Folha 35,92

– Livraria Saraiva 40,40

– Submarino 44,90

 “Leiam e humanizem-se.”

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