Para pessoas trans e travestis, sobretudo pretas, vivenciar o amor, se atravessar com o afeto… Pode ser muitas vezes algo utópico porém extremamente necessário pro resgate da nossa humanidade negada.

Uma das certezas que eu tinha quando iniciei minha transição é que nunca seria amada em minha totalidade, pra mim existir enquanto uma mulher negra, trans e lésbica era sobre ser empurrada tanto pra margem que fosse impossível alcançar o amor e me banhar do afeto… E de fato eu me encontrei com o preterimento e me desecontrei das histórias de romances, mas vivenciei o afeto por outras narrativas e isso me fez criar a certeza que o amor não só é coisa pra travesti como é possível existir de outras formas que não a convencional.

O amor branco, heteronormativo não me contempla, mas o amor preto, o amor lesbocentrado… Me preenche e me transborda, me faz produzir possibilidades outras.
Me sentir amada e amar me lembra que minha humanidade é valida, que minhas subjetivadades são legítimas, me faz ter fôlego pra brigar, pra pedir mais, pra gemer e me movimentar…

Ser sapatão sendo preta e trans me fez pensar muito mais sobre como os desdobramentos afetivos são políticos, são construtores da nossa civilidade e intimidade, são distribuídos seguindo a forma como a sociedade se organiza, ou seja onde o corpo cisgênero, branco e heterossexual goza e o corpo transvestigênere, racializado e homo/bissexual toca.

Amar sendo uma mulher preta é um ato político, amar sendo uma pessoa trans é um ato político, amar sendo lésbica é um ato político, mas acima de tudo é sentimental, emocional e carnal tanto quanto entre as pessoas normativas e isso precisa ser também reconhecido de forma crua sem a necessidade de uma história de resistência por trás.

Que estejamos presentes, pensantes e atuantes nas produções de amor, de redes de apoio… Que possamos traçar novas rotas e iventar novos destinos pra além de encontrar outro alguém mas que também possamos nos esbarrar com outros alguém na caminhada.

Mulher, negra, transgênero, lésbica. Palestra e escreve sobre raça, gênero, sexualidade e afeto.

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