Normalmente em meus momentos de meditação costumo ler algum livro, ou que eu julgue interessante, ou que o destino me leve a ler… No momento estou lendo Ninguém é de ninguém de Zibia Gaspareto, antes desse eu li Veronika decide morrer de Paulo Coelho e em simultâneo li também Puzzle de Saulo Sisnando… Enfim, em minha mente que normalmente não para nem por um segundo fui tomar meu maravilhoso banho e fiquei pensando em uma passagem que havia acabado de ler da Zibia… Roberto, um dos personagens centrais da historia recebe uma tremenda graça de Deus e ainda assim continua se lamuriando e vendo somente o lado negativo de tudo, continua nos mesmos erros e egoísmo que a vida tenta mostrar a ele a cada segundo que não é o comportamento correto… Então pensei… Não gosto da ideia de ver sempre o copo meio vazio… Prefiro ver o copo meio cheio, e digo mais, mesmo que o copo esteja seco, sem nada mesmo, e prendermos nossos olhares a ele, possivelmente não conseguiremos vislumbrar as fontes de cálidas águas que a vida coloca em nossos caminhos e deixaremos de preencher nossos copos com as oportunidades que perdemos.
Divagando um pouco mais nos meus pensamentos eu imaginei que temos que ver a vida sempre com bons olhos e que quando formos surpreendidos por alguma diversidade, que tenhamos a delicadeza de espantar para longe de nós o que não for nos acrescentar. Penso que antes de sairmos do armário passamos por uma metamorfose, antes de mostrarmos a cara nos fechamos, nos analisamos, e passamos pela nossa maior juíza: a consciência. A mudança é tortuosa, demorada, em dados momentos é barulhenta e em outros e impertinentemente silenciosa, as vezes nos rasga por dentro e então sabemos que é o momento de calar nossa consciência e nos recompor. Antes de criarmos nossas asas é preciso o primeiro passo de se assumir… É o passo da auto aceitação. Sem isso não conseguimos continuar nossa transformação. Sorri pensando na utopia de que nos transformamos, criamos nossas asas e nos assumimos e tcharam! Somos lésbicas e pronto… A dura realidade é que acontece exatamente o contrario, héteros podem se dar ao luxo de ficaram abraçados, trocar algumas caricias (sem putaria, que fique claro!!) em uma fila de supermercado sem olhares reprovadores, nesse caso eles têm as asas certo? Concluí que, infelizmente depois de toda a dor da transformação nós, na verdade, cortamos nossas asas, policiamos nossas demonstrações de afeto em publico com medo de sofrer alguma agressão… Depois de lutarmos tanto para colorir nossas lindas asas, nós temos que guardá-las, camufla-las para que não sejamos o tempo todo destratados. Saímos então do armário, mas ainda de forma discreta e bem comportada, pois mesmo diante de tanto avanço e mudanças, sabemos que no fundo ainda pisamos em solos nunca antes explorados. A homossexualidade nunca antes foi tão abordada e junto com ela também veio a consciência da violência que também existe.
Isso me fez pensar nos outros dois livros… Em como, de vez em quando, é saudável sermos loucos… Dizem que aos loucos tudo é permitido e hoje em dia acredito plenamente nisso… Eu sou meio louca (eu digo meio, mas é melhor não perguntar a opinião dos meus amigos, ok? Heheheheh) e percebo que isso me deixa margem para as vezes falar o que não devo, fazer o que tenho vontade, mas que não deveria nem tentar fazer… E sei que no final das contas, quando viro as costas as pessoas pensam: “Nem ligo para o que ela diz, ela é meio louca mesmo…” Mais eu sei. Ah! Eu sei, que minhas palavras foram ouvidas, minhas atitudes observadas, e sei também que mais cedo ou mais tarde um ou outro vão pensar na verdade que eu disse grosseiramente ou que vão avaliar minha atitude, quase sempre, um tanto quando hostil.
Seja meio louco, de vez em quando seja corajoso e fuga das regras de bom comportamento (mas sempre dentro de uma lógica, não vá meter os pés pelas mãos, viu?), você verá que se sentirá mais leve. E diante de cada capítulo da sua vida, veja sempre o copo meio cheio e, não se esqueça, se estiver vazio não se desespere… a vida te da outras oportunidades e te leva a novas fontes para preenche-lo novamente!
Termino com um trecho de Veronika decide morrer, e faço votos para que um dia achemos a fonte que contem a agua que elimina o pré-conceito e intolerância da humanidade…
“Um poderoso feiticeiro querendo destruir um reino, colocou uma poção mágica no poço onde todos os seus habitantes bebiam. Quem tomasse aquela água, ficaria louco.
Na manhã seguinte, a população inteira bebeu, e todos enlouqueceram. O rei – que tinha um poço só para si e sua família, onde o feiticeiro não conseguira entrar – tentou controlar a população. Baixou uma série de medidas de segurança e saúde pública, mas não havia mais policiais ou inspetores, pois eles também haviam bebido a água envenenada.
Quando os habitantes daquele reino tomaram conhecimento dos decretos, ficaram convencidos de que o rei enlouquecera, e agora estava escrevendo coisas sem sentido. Aos gritos, foram até o castelo e exigiram que renunciasse à coroa.
Desesperado, o rei prontificou-se a deixar o trono, mas a rainha o impediu, dizendo: “vamos agora até a fonte, e beberemos também. Assim, ficaremos iguais a eles”.
E assim foi feito: o rei e a rainha beberam a água da loucura, e começaram imediatamente a dizer coisas sem sentido. Na mesma hora, os seus súditos se arrependeram: agora que o rei estava mostrando tanta sabedoria, por que não deixá-lo governando o país?
O país continuou em calma, embora seus habitantes se comportassem de maneira muito diferente de seus vizinhos. E o rei pode governar até o final dos seus dias.”
Obrigada mais uma vez,