– Não! – Relaxa, sei que no final vai estar gostando!
– Não! – Shhhhhhh… Fecha os olhos e relaxa!
– Não! – Quando uma mulher diz não, na verdade está querendo dizer sim!
Somos criadas em uma sociedade que nos ensina que quando homens “pegam geral” são o orgulho do pai, mas que mulheres que fazem o mesmo são vadias, homens que bebem até cair estão exercendo o direito masculino de relaxar depois de um dia estressante de trabalho, mas mulheres que bebem, mesmo que moderadamente, são descontroladas. Homens sozinhos na rua de madrugada são corajosos, já mulheres no mesmo cenário, estão pedindo para sofrerem violência e por ai vai…
Sofremos pequenas violações diariamente e, as vezes, nem nos damos conta. O modo como o “colega” de trabalho toca seu braço enquanto conversa, mesmo quando sua atenção está voltada para ele, aquela encoxada no metro ou ônibus disfarçada pela balanço do transporte. Podem ter gente que ache um exagero, mas acredito que a maioria das mulheres entendem o que quero dizer.
Aqui vão alguns dados, que acredito estarem longe da realidade:
- Levantamento do IPEA, feito com base nos dados de 2011 do Sistema de Informações de Agravo de Notificação do Ministério da Saúde (Sinan), mostrou que 70% das vítimas de estupro no Brasil são crianças e adolescentes.Em metade das ocorrências envolvendo menores, há um histórico de estupros anteriores. Além disso, a proporção de ocorrências com mais de um agressor é maior quando a vítima é adolescente e menor quando ela é criança. Cerca de 15% dos estupros registrados no sistema do Ministério da Saúde envolveram dois ou mais agressores. “As consequências, em termos psicológicos, para esses garotos e garotas são devastadoras, uma vez que o processo de formação da autoestima – que se dá exatamente nessa fase – estará comprometido, ocasionando inúmeras vicissitudes nos relacionamentos sociais desses indivíduos”, aponta a pesquisa.
- O crime, em geral, é subnotificado, mas, quando a vítima é do sexo masculino, o silêncio tende a ser maior. Um estudo feito nos Estados Unidos revelou recentemente que um em cada seis homens sofreu algum tipo de abuso antes dos 16 anos no país. No Brasil, há poucos dados sobre o assunto, mas o Disque Denúncia (o Disque 100, serviço nacional de denúncia de abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes) registrou em 2014 uma média diária de 13 denúncias de abusos de meninos. O número ainda representa menos de 30% dos casos com meninas, mas de acordo com especialistas, também é alarmante. “O número de meninos abusados é bastante subnotificado, e isso se deve à nossa cultura. O caso de meninos assediados não vem à tona por conta do constrangimento em assumir que eles passaram por isso”, disse à BBC Irene Pires Antonio, psicóloga judiciária da Coordenadoria da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
- De acordo com os dados mais recentes, em 2014 o Brasil tinha um caso de estupro notificado a cada 11 minutos.Os números são do 9º Anuário Brasileiro da Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Apesar da pequena queda ante 2013, 47,6 mil pessoas foram estupradas naquele ano. Como apenas de 30% a 35% dos casos são registrados, é possível que a relação seja de um estupro a cada minuto.
- Pesquisa realizada no ano passado pelo Datafolha, a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 84 municípios brasileiros com mais de 100 mil pessoas, revelou que 67% da população tem medo de ser vítima de agressão sexual. O percentual sobe para 90% entre mulheres. Entre homens, 42% temem ser estuprados.
- 26% dos entrevistados pelo IPEA em pesquisa feita em 2013 e divulgada em 2014 concordam total ou parcialmente com a afirmação de que “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”. No entanto, 58,5% concordam total ou parcialmente com a afirmação que “Se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros”.
- A mesma pesquisa do IPEA, citada anteriormente e feita a partir de dados de 2011 do Sinan, estima que no mínimo 527 mil pessoas são estupradas por ano no Brasil e que, destes casos, apenas 10% chegam ao conhecimento da polícia. Os registros do Sinan demonstram que 89% das vítimas são do sexo feminino e possuem, em geral, baixa escolaridade. Do total, 70% são crianças e adolescentes.
- Esses números mostram que 24,1% dos agressores das crianças são os próprios pais ou padrastos, e 32,2% são amigos ou conhecidos da vítima. O indivíduo desconhecido passa a configurar paulatinamente como principal autor do estupro à medida que a idade da vítima aumenta. Na fase adulta, este responde por 60,5% dos casos.
- Em geral, também segundo o IPEA, 70% dos estupros são cometidos por parentes, namorados ou amigos/conhecidos da vítima,o que indica que o principal inimigo está dentro de casa e que a violência, muitas vezes, ocorre dentro dos lares.
Além de nos conscientizar, precisamos parar de nos encolher, mudar de lugar no ônibus ou sorrir quando nos tocam de uma forma que nos incomoda. Temos voz, temos força! Denunciem, não se calem. Procurem ajuda, mas não se calem.
Juntas somos mais fortes ainda!
Fonte de consulta: http://www.bbc.com/portuguese/brasil-36401054
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