Palestina, de Joe Sacco, é uma das obras pioneiras no gênero do jornalismo em quadrinhos, uma fusão única de reportagem e narrativa visual que nos leva ao coração do conflito israelense-palestino. Publicada pela primeira vez em 1996, a HQ é resultado de dois meses que Sacco passou na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, entrevistando palestinos, documentando suas histórias e observando as condições de vida sob ocupação. É um testemunho gráfico que desafia as fronteiras entre arte, política e jornalismo.
A narrativa é uma sequência de encontros e histórias individuais que humanizam o conflito. Sacco nos apresenta famílias deslocadas, jovens traumatizados pela violência, mulheres lutando para sustentar suas casas em meio à guerra e ativistas tentando manter viva a resistência. A força de Palestina está na forma como combina a realidade brutal com a sensibilidade do olhar de Sacco, que se torna uma espécie de mediador entre o leitor e as vozes de quem vive sob ocupação. A obra também tem momentos de autorreflexão, quando Sacco questiona sua própria posição como observador estrangeiro, adicionando uma camada de complexidade ética à narrativa.
O estilo visual de Sacco é detalhista e expressivo. Seu uso de sombras e hachuras cria uma atmosfera pesada e angustiante, apropriada para o tema que aborda. A escolha de uma estética quase documental ajuda a reforçar a credibilidade do trabalho, mas, ao mesmo tempo, a HQ é visualmente desafiadora, com quadros densos e cheios de texto que podem cansar a leitura. Além disso, Palestina recebeu críticas pela falta de equilíbrio, sendo considerada por alguns uma visão parcial do conflito, ainda que essa perspectiva seja assumida pelo autor desde o início.