Categoria: Pop Alternativo
Lançamento: 2024
Há algo em “Hit Me Hard and Soft” que parece escapar à vista, um sussurro tenso atravessando um quarto mal iluminado. Billie Eilish não nos entrega aqui uma coleção de canções feitas para o consumo fácil; o que temos é mais próximo de um conjunto de fragmentos emocionais, tecidos com fios de ansiedade, ternura e desconforto. O álbum soa como um diário cujas páginas foram rasgadas e coladas de volta, não necessariamente na ordem certa, tampouco com a garantia de coerência imediata.
A produção escolhe a penumbra como habitat: batidas eletrônicas contidas, texturas quase tácteis, vocais sussurrados que se estendem sobre arranjos econômicos. A impressão é de que Billie não quer gritar para ser ouvida; ao contrário, ela prefere a estratégia de sussurrar tão perto do ouvido que se torna impossível ignorar sua presença. Em vez de refrões claros e catarse instantânea, o que encontramos são canções que brincam com o vazio, valorizando o silêncio, as pausas, as hesitações. Não é um álbum feito para preencher o ambiente, mas para criar espaços — espaços que podem incomodar, mas também convidar a uma introspecção mais profunda.
A narrativa sonora, se é que podemos chamá-la assim, não busca linearidade. Ao contrário, cada faixa parece um estado de espírito levemente diferente, como se, a cada virada, Eilish testasse o nível de tolerância do ouvinte ao desconhecido. Esse estranhamento é tanto o ponto fraco quanto a virtude do projeto: não há garantias de que todos aceitarão este convite. Alguns irão querer algo mais polido, outros se sentirão atraídos justamente por essa recusa em ser facilmente decodificada.