Em A Vegetariana, Han Kang apresenta uma narrativa perturbadora e poética que desafia convenções sociais e explora os limites do corpo, da identidade e da autonomia feminina. O romance gira em torno de Yeong-hye, uma mulher que, após um sonho visceral e violento, decide parar de comer carne. Sua decisão aparentemente simples desencadeia uma série de rupturas que desestabilizam sua vida e suas relações, expondo a fragilidade de seu entorno familiar e a violência sistêmica dirigida ao corpo feminino.
O livro é dividido em três partes, cada uma narrada por uma perspectiva diferente: o marido de Yeong-hye, sua cunhada e seu irmão. Essa estrutura fragmentada revela tanto a alienação da protagonista quanto a maneira como os outros projetam nela suas próprias obsessões e traumas. Han Kang usa o vegetarianismo como metáfora, mas a narrativa vai muito além disso. A recusa de Yeong-hye não é apenas alimentar; é uma tentativa de subverter as expectativas sociais e retomar algum controle sobre seu próprio corpo. A escrita de Kang é lírica, mas carregada de tensão, criando um ritmo que prende o leitor e o força a enfrentar as camadas de violência que permeiam a trama.
A força do romance está em sua ambiguidade. Yeong-hye é simultaneamente uma vítima e uma figura enigmática que desafia definições. Suas motivações nunca são completamente explicadas, deixando espaço para interpretações que vão desde a liberdade espiritual até a autoaniquilação. Porém, essa mesma ambiguidade pode frustrar algumas leitoras, especialmente aquelas que buscam resoluções claras. Além disso, a leitura é emocionalmente densa e, em alguns momentos, angustiante, o que pode exigir fôlego das leitoras.