Queriam-me casado, fútil, cotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havermos de ir juntos?
(Fernando Pessoa, “A Casa Branca Nau Preta”, in Poesias.)

Buenas!

Muita gente fica com um pé [ou dois e uns bons 4 km] atrás quando escuta ou lê ‘diversidade’. Contemporaneamente, ‘diversidade’ causa uma impressão de ‘um mundo descontrolado, diametralmente oposto ao que eu sempre conheci, vivi e quero pra mim’. Creio eu que a idéia é exatamente esta, entulhar as diferenças com tudo de apavorante que possam encontrar, a fim de deixá-las cada vez mais longe do mundo em que se vive, criando, assim, um buraco gigante entre eu e qualquer um que use, crie ou habite a tal diversidade.

Aliando este processo do ‘distanciamento da diversidade’ ao processo antigo de ‘depreciação da diferença’, temos que a diversidade é um lugar na pqp de tão longe, cheio de negatividade, sub-humanidade, porcaria de baixo nível mesmo, do qual é melhor tomar distância mesmo – do lugar e de quem vem dali.

Bem, isto é uma perspectiva.

Minha intenção é discutir exatamente isto. Perspectivas. Como são, de onde vêm, para onde vão. Estagnação. Mudança. Como ajudam ou atrapalham. A interação entre diferentes perspectivas, na casquinha ou no palito, no gueto ou não, com chantilly ou calda quente, no armário ou fora dele,  algemas ou cordas, talicoisa.

Dei uma olhadinha em alguns textos que acho bem bacana pra ler a respeito… [de diversidade e perspectivas, claro].

O primeiro grupo de textos é uma coleção muito bacana organizada pelo Manoel Barros da Motta e lançada pela Editora Forense Universitária. Ditos & Escritos conjuga textos de Michel Foucault em ‘grupos temáticos’. Eu recomendo a leitura de todos os volumes. Entretanto, para os que querem se aventurar sobre questões de sexualidade, recomendo particularmente o volume V – “Ética, Sexualidade, Política”. Conhecer a teoria do autor de que a sexualidade virou uma ferramenta social de controle do sujeito é tremendamente interessante.

Também é de Michel Foucault a “História da Sexualidade” – em 3 volumes, editado em português pela Graal, Rio de Janeiro. Novamente, recomendo os 3 volumes, pois é interessante observar as construções do autor.

Pensando em Brasil, Edith Modesto fez um trabalho bem interessante em seu “Vidas em Arco-Íris”, da editora Record. Ela conjuga um universo de depoimentos de homossexuais sobre  si, idéias, afetos, armários, amigos, amores… Bom ver a diversidade por aí.

Pra finalizar (por enquanto), outro francês, Didier Eribon, publicou um livro maravilhoso sobre o lugar da sexualidade e principalmente da homossexualidade no mundo contemporâneo. Além disto, faz um estudo interessante sobre o processo de Oscar Wilde. O livro, editado pela Companhia de Freud, chama-se “Reflexões sobre a Questão Gay”.

Recomendo todos, em verdade. Cada um a seu modo manda bem em tudo a que se propõe.

Quero lidar com perspectivas e estou sempre aberta a idéias, debates e sugestões de temas. Acho que vou começar com a idéia do preconceito – o que te afeta, o que você manifesta e as construções possíveis entre opinião e preconceito.  Quer dar um pitaco, trocar uma idéia? Manda e-mail.

Na minha opinião, conhecimento, diálogo e aprendizado são fundamentos de mudanças, invenções e de uma existência saudável. [ok, eu concordo com a alimentação e os exercícios, mas tava pensando noutra perspectiva, se é que me entendem… 😀 ]

Abraço!