Texto de Tiara Deguzman para o Autostraddle. Tradução Lu Paes
Nós estávamos trocando mensagens por um tempo quando finalmente recebi um texto que tenho certeza de que foi digitado com mãos hesitantes:
Ela – Menina, posso te contar algo que percebi recentemente?
Eu – Claro, conta aí.
Ela – Bom… Recentemente eu percebi que eu não sou tão poliamor como pensei que eu era. Eu acho que sinceramente eu só era porque pensei que tinham opções limitadas na comunidade queer para quem não pratica a não-monogamia.
Nesse momento, eu tranquilizei minha amiga e a agradeci de ter dividido essa percepção comigo: mas essa situação de fato me pôs a pensar.
Nós estamos aqui, somos queer*, e alguns de nós tiveram o privilégio de sair do armário para amigos e família – mas existem alguns estereótipos e expectativas da comunidade LGBTQIA+ que nos impedem de nos sentir válidos?
É como se fosse sair do armário novamente. Tem o “pais e/ou guardiães, sou gay”. Tem também o “olá amigos LGBTQIA+! Eu não sei o que é um signo e um ascendente e sinceramente eu não me importo”.
E uma vez que você fala isso, é fácil refletir: essa verdade que contei me fez perder um amigo ou relacionamento em potencial? Eles estão me julgado? Eu sou de fato parte da comunidade LGBTQIA+?
A síndrome de impostor tenta nos enganar, nos fazendo pensar que só aparece em situações de trabalho. Mas a realidade é que ela pode aparecer até em espaços que achamos ser extremamente nossos. No grupo de mensagens, na Parada, até mesmo nas nossas mentes (e para quem invalida pessoas bi e pan com parceiros homens cis hétero, estou de olho em vocês!). A síndrome de impostor nos leva a agir de formas que não são autênticas a quem somos e nos ensina a focar apenas na superfície de nossas identidades.
Meu primeiro entendimento da síndrome de impostor veio de não me sentir “negra o suficiente” como criança. Havia certas maneiras que meus colegas – tanto negros como não – esperavam que uma mulher negra agisse e quando eu não atingia essas expectativas, eu me sentia como uma falha. Eu passei muitas horas tentando mudar minha fala e meu cabelo e minhas roupas e meus gostos musicais e só parei esse ciclo perigoso quando percebi que eu sou a única pessoa que pode definir minha negritude. [Tipo, eu ainda posso ser negra e ouvir Taylor Swift, sabe? Tô brincando!]
Então, estou aqui para te lembrar que você é parte da comunidade LGBTQIA+ sim, da forma que você é! Você é queer o suficiente do jeito que é!
Você não precisa beber álcool para se divertir. Você não precisa ser não-monogâmica ou monogâmica. Você ainda é queer mesmo que não tenha feito sexo ainda ou nunca o faça. Você ainda pertence a comunidade se gosta de astrologia e pede o mapa astral das pessoas no primeiro encontro, e também se você não sabe a diferença entre lua e ascendente.
É hora de pararmos de nos limitar e nos permitir ter profundidade. De outra forma, cairemos em papéis que são impostos a nós. Fomos pedidos para ser estereótipos por tanto tempo e já é hora de, como comunidade, jogar isso fora e nos permitir ser as pessoas que queremos.
Brene Brown disse uma vez – “se você coloca vergonha em um microscópio, vai ver que precisa de três coisas para crescer: segredo, silêncio e julgamento. Se você põe a mesma quantidade de vergonha no microscópio e cobre de empatia, ela não irá sobreviver.”
Então vamos cobrir com empatia!
Deixe um comentário