Gênero: Indie Pop, Bedroom Pop
Lançamento: 2023
Há algo de inquietantemente íntimo em “Work in Progress I’m Doing It Again Baby!”, quase como se Girl in Red, naquele gesto familiar de quem acende um cigarro na janela ao anoitecer, deixasse que sua própria voz se infiltrasse na corrente elétrica do nosso quarto. Não é apenas mais um álbum pop independente, mas um registro de tentativas, erros e aquele sentimento agridoce de quem retorna à mesma rua, mesma casa, mesmo corpo. Aqui, o que se ouve não é apenas uma evolução, é o corte lento e delicado da faca no tecido do dia a dia, expondo as fibras mais internas daquilo que chamamos intimidade.
A voz de Girl in Red, envolta em synths moderados, guitarras ocasionais e batidas que lembram um coração que não sabe se corre ou se espera, cria uma textura que se cola aos nossos pensamentos mais tímidos. Os refrões insistem, não pedem licença, não suplicam aceitação; eles simplesmente dizem: “estou aqui, do mesmo jeito, fazendo tudo de novo.” Há algo no modo como ela aborda a ansiedade, a insegurança e a redescoberta do desejo que faz desse álbum não apenas uma compilação de canções, mas uma extensão da vida cotidiana — o café amargo pela manhã, o cheiro de mofo no armário do corredor, os telefonemas que não recebemos.
Não há pressa em agradar. O álbum admite suas contradições e medos, permite-se falhar, ecoando a sensação de “obra em progresso” presente no título. Há um charme nisso, embora também possa incomodar quem preferiria algo mais “pronto” e menos desarrumado. Mas talvez essa seja a beleza aqui: aceitar que o que soa inacabado, às vezes, é a voz mais honesta que se pode ter.
Em última análise, “Work in Progress I’m Doing It Again Baby!” é uma conversa íntima entre a artista e o ouvinte, onde ambos sabem que o chão pode falhar a qualquer instante. A diferença é que, desta vez, Girl in Red parece disposta a cair, se levantar e tentar mais uma vez — e essa insistência, mesmo meio desalinhada, mesmo meio incerta, se torna a substância do disco.imperfeições.