Dizem que se nasce gay, ou que em algum momento das nossas vidas temos um estalo da descoberta. Comigo foi bem diferente. Talvez as coisas comigo sejam mesmo mais lentas ou diferentes. Da mesma forma que descobri ter lido o horóscopo errado por mais de 20 anos (lia virgem e sou de libra – não que isso tenha alterado minha vida) me descobri gay aos 30. Não houve o estalo, não houve desejo secreto, houve o amor, e fim.
Eu não me lembro de pensar na possibilidade de namorar uma mulher em algum momento da minha vida. Eu tive namorados, noivei, casei, tive um filho, e me apaixonei ( ? pela pessoa errada, ninguém sabe o quanto que eu estou sofrendo ?) por alguém cujo corpo era igual ao meu, menos gordinho, bem menos.
Entre me apaixonar pela mulher da minha vida (a primeira e numero um em tudo) e me assumir para meus amigos eu tive cerca de 5 minutos, já que abandonei minha vida hétero numa festa da empresa em que eu trabalhava. E levei mais umas duas semanas para me assumir para meus pais, uns cinco meses para me assumir para o pai do meu filho e uns 6 meses para tratar tudo como deveria ser, uma parte de mim que não se resume a tudo o que sou e criar esse site.
Houveram muitos problemas, imensos, absurdos, mas quem não tem problemas na vida, confesso que minha conta bancaria me tira mais o sono do que a soma de todos os problemas que tive por ter me descoberto gay.
Entre os tais problemas vieram o peso do divórcio, o medo de perder a guarda do meu filho, a possibilidade dele sofrer algum preconceito no futuro, a reação das pessoas em geral.
Mas enfim, confesso que depois do primeiro beijo eu fui buscar no Google informações sobre os relacionamentos lésbicos. Mas nem o Google poderia ter me preparado para o turbilhão de sensações, emoções e DRs pelas quais eu ainda passaria.
Minhas “Referências Lésbicas” vinham de filmes e séries de TV, meu mundo sempre foi mais gay, tinha neles meus melhores amigos, e ainda tenho, mas nenhuma lésbica. Ao pensar sobre isso percebi que o universo lésbico sempre me rondou e consegui reunir meus primeiros contatos com o que para mim era um mundo novo.
Se assumir não é a coisa mais fácil do mundo, mas fazer isso depois de uma certa idade é ainda pior. Existe a vergonha de se esconder e o medo de escancarar. Você passa 30, 40, 50 anos num estilo de vida e de repente tem que se reinventar, deixar para trás um universo confortável, não raro deixar para trás sua família, amigos e as vezes os filhos (o que deve ser a dor mais mortal de todas).
Coisas que eu gostaria que alguém tivesse me dito
Anote isso.
Você não é a única
Se isto está acontecendo com você , tenha a certeza , já aconteceu com outras pessoas. Isso significa que você não é a pessoa exclusiva na m*&%#@ . As coisas podem ser terríveis no começo, mas você vai fazer isso para para ter uma vida mais feliz, outras pessoas já passaram por isso e sobreviveram. Este será o seu mantra.
Você não é propriedade de um único dono
Provavelmente todos que terminaram um relacionamento de longo prazo de qualquer tipo se sentem um pouco [ou muito] desajustados . Exaustos. Parece que você precisa de três semanas/anos de esfoliações de corpo inteiro e talvez até mesmo dentes novos. Saiba esse sentimento vai passar. Você vai conhecer outras pessoas interessantes e vai acreditar em possibilidades de novo (ou talvez pela primeira vez). Também digno de anotações: há outros seres humanos neste planeta e eles irão achá-la atraente e interessante!
Você é bem vinda por aqui
O mundo das lésbicas “é uma casa na árvore em Nárnia?” Não é! Você pode pensar que a sua história com um homem vai te alienar para sempre do “clube”, mas na verdade você já é membro, através do seu desejo de estar com outra mulher. Bem-vinda! Não há presidente do clube – embora isso não impeça algumas de tentar.
Nota : O Dyke Drama é uma coluna em primeira pessoa para mulheres gays contarem suas próprias histórias e compartilhar experiências unicas. Estes ensaios pessoais não refletem os ideais do True Love ou seus editores, nem qualquer escritor individual pretende falar em nome de ninguém além delas mesmas. As escritoras estão simplesmente falando honestamente de seus próprios corações.
Vem contar sua história pra gente aqui.