“Gentleman Jack” é um conto de resistência e amor em sua forma mais intensa, mais política e, ao mesmo tempo, profundamente pessoal. A série, baseada na vida de Anne Lister, uma aristocrata inglesa do século XIX, que desafiou as normas de sua época ao viver abertamente como uma mulher lésbica, traz à tona uma complexidade que transcende os clichês do romance histórico. Anne Lister é uma mulher que toma as rédeas de sua própria narrativa e, ao fazê-lo, desafia todas as convenções de seu tempo — e a série reflete essa luta com uma força que é ao mesmo tempo emocionante e reveladora.
Desde o início, a série se apresenta como um estudo de caráter, dando à Anne a posição de protagonista intransigente, que se recusa a ser definida por ninguém além de si mesma. Surpreendentemente moderna em sua abordagem, “Gentleman Jack” não tem medo de explorar as tensões sexuais e políticas do período, com Anne desafiando as expectativas sociais e familiares de uma mulher solteira e forte. Sua vida é uma dança constante entre a necessidade de conformidade e a ardente busca por autonomia, e o roteiro da série, com suas trocas afiadas e diálogos inteligentes, capta isso com precisão.
A atuação de Suranne Jones como Anne é uma das pedras angulares da série. Ela interpreta uma mulher com tanto vigor e vulnerabilidade que a personagem se torna uma força da natureza. É impossível não ser atraído pela confiança com que Anne transita pelos espaços públicos e privados, desafiando tanto as regras sociais quanto as limitações da narrativa histórica. A química entre Anne e sua amada, Ann Walker (interpretada por Sophie Rundle), é também uma força irresistível na trama, explorando o amor romântico e a cumplicidade entre duas mulheres em uma época em que tal relação era impensável, mas também inevitável.
A beleza da série também reside na sua precisão histórica, mas sem perder a nuance emocional. Em vez de se concentrar apenas nas convenções sociais do século XIX, “Gentleman Jack” se apropria delas de forma inteligente, utilizando as limitações da época para tornar os momentos de autossuficiência de Anne ainda mais intensos. Os diálogos são afiados, e a maneira como a série mistura humor negro com drama histórico é algo que a distingue de outras narrativas da mesma época.
Entretanto, apesar de seu charme e relevância histórica, a série não está isenta de falhas. O ritmo pode ser irregular, e a falta de ação em algumas partes da trama pode resultar em uma narrativa que se arrasta mais do que o necessário. Além disso, a história de Anne Lister, embora fascinante, pode parecer um pouco desafiadora para os espectadores que não estão familiarizados com o contexto histórico ou os detalhes da vida dessa figura.